26/06/2020

Beleza do escritor

em gesto, ideia e pensamento,
aparência, impressão e sentimento.
(16 estrofes).
"Linha de pensamento":
Invejar um grande vulto é seguir um bom exemplo.

        1) Escrever
Escrever é muito bom,
é processo trabalhoso;
mas a Arte diz o tom 
do que é mais proveitoso;
e mesmo quem não tem dom,
acha-se um pouco famoso.
Texto concebido com a ideia de (eu) imitar os escritores que admiro ou que imaginei; em alguma estrofe, já sou eu mesmo com uma "vaidade útil", roupagem nova.

         2) Imagem, roupagem
Acho bonito o escritor,
que, com a mão, desliza a pena,
em folha grande ou pequena,
onde escreve com primor.
Pensativo ou pensador,
contempla a Sabedoria.
Imito a sua mania
de andar com uma caneta
(ou lápis) e caderneta,
rabiscando uma poesia.

        3) Hora marcada
É bonito o seu vagar —
sentado em uma cadeira,
pegando na algibeira
seu relógio, e marcar
o momento de parar
a escrita de um romance —
por temer que a Hora avance
e ele chegue atrasado
ao baile que foi marcado,
sem achar mais com quem dance.

        4) Boa impressão
Dançar sozinho, acho feio.
Mas, no caso do escritor,
"invento que é um 'ator',
encenando ali, no meio:
que, em passes de devaneio,
no salão, vai se encontrar
com a dama que vai chegar;
em romance, está pensando...
e a moça, quase chegando,
antes do show começar".

         5) Águia de livraria
Ao entrar na livraria,
é águia junto à estante.
Junto à mesa circulante,
não quer uma companhia!
Puxa a cadeira (vazia)
e vai se sentar sozinho.
Não quer saber de vizinho
que gosta de conversar
porque pode atrapalhar
seu voo que abre caminho.

         6) Peixe de aquário
Mexendo na escrivaninha,
muda o quarto e o cenário!
Como peixe, no aquário,
não escuta campainha,
não sabe onde é a cozinha
(nem se lembra de comer).
Sua água de beber
vem de caneta e tinteiro;
e o alimento caseiro
é o tema que escrever.

       7) Traços intelectuais
O escritor não precisa
sempre estar meditativo.
Importa ser criativo,
conhecer o que analisa;
saber fazer a divisa
entre o errado e o certo;
deixar o tema em aberto
— na hora do arremate —,
suscitando o bom debate
por quem o lê mais de perto.

        8) Usando a caneta
A caneta que escreve
é do corpo uma extensão:
reproduz opinião
ou carta que alguém leve...
A sua tinta não deve
servir para um malfeitor.
Logo, quem for escritor
sinta amor pela caneta
e, com mesma, não cometa
ato feio ou sem valor.

        9) Dando vazão aos papéis
Escrevo por compulsão,
pois não consigo barrar
a enchente de uma vazão
que chega sem me avisar.
Tanto papel enche a mão 
que é preciso esvaziar:
em verso, prosa ou canção,
eu tenho de transformar.

10) TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo)
Meu "transtorno" de escrever
é "compulsivo", constante.
Mas também é estimulante
que me "toca" e dá prazer.
Gosto de ter e fazer
uma base construtiva
com uma via alternativa
que, aos outros, também agrade.
Essa "obsessividade"
seja ação contributiva!

        11) Inveja virtuosa
Invejo o grande escritor,
querendo ser o que ele é.
"Inveja de boa-fé
suscita digno valor."
Até um grande cantor
imita outro, famoso.
Eu, como bom invejoso,
assim também me engrandeço
ou, pelo menos, pareço
um aprendiz virtuoso.

        12) Estilo e assunto
Aprendi a escrever
de um jeito que acho bonito
e a cada dia, exercito
o que estou a conceber.
Antes procuro escolher
um assunto que domine
ou, se não, que alguém me ensine;
dou forma com um novo estilo;
toco, retoco, burilo,
para que abaixo, eu assine.

        13) Autoria responsável
Então assumo a autoria
com responsabilidade.
"Autor e autoridade"
guardam esta parceria:
com a própria ideologia,
que, para uns, é viável;
para outros, condenável;
e sobre a qual, ele opina,
ganha fama quando assina
como autor, mas, responsável. 

        14) Ser lido e cultuado
Ser lido é gratificante.
É mais do que pagamento:
é o reconhecimento
de um espírito longe e pensante.
Cada leitor é um "viajante
nas ideias" do autor;
talvez, admirador
se gostar do conteúdo;
em geral, em pouco ou tudo,
é um, do outro, cultor.

        15) Estado unido
Escritor, eu te imito
“como Bilac, ao ourives”¹
por esse estado em que vives
sempre unido ao teu escrito.
Chegas a ficar aflito —
enquanto estou corrigindo
teu livro, que está "saindo"³
com base, fontes, doutrinas
sobre o tema que dominas
e ainda estás concluindo...
¹ Alusão à estrofe do poema Profissão de fé, Olavo Bilac:
“.................................................
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo 

Faz de uma flor.
................................................." 
² saindo: ficando pronto.        

        16) Quinteto
Escritor e revisor,
poeta, ourives e flor 
todos juntos no Amor
pela arte de escrever.
Neste momento, eu prometo
ser parte desse quinteto
para o qual eu me remeto
sem nunca me arrepender.

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